Um frame para pensar a inovação *
* Prévia do artigo que será em breve publicado em revistas. Por André Ribeiro Coutinho, um dos sócios e arquiteto de inovação pela Symnetics. Professor dos MBAs e programas executivos da Business School São Paulo e HSM Educação. Coautor dos livros “Gestão da Estratégia” e “O Ativista da Estratégia”, ambos pela editora Campus Elsevier.
Se a gente for conversar com empresários e executivos no Brasil vai perceber que, ao menos no discurso, a inovação entrou definitivamente na agenda estratégica das empresas. Desde o início dos anos 90, quando as empresas brasileiras começam a efetivamente enfrentar a globalização dos negócios, ser competitivo se tornou sinônimo de gestão, qualidade e eficiência. Não só empresas, mas diversas instituições se mobilizaram neste sentido no páis: criou-se um prêmio nacional e programas/prêmios estaduais de qualidade; as universidades e consultorias se fortaleceram no país ao incorporar conceitos e práticas internacionais de gestão; e a mídia passou a estoriar e divulgar casos de excelência. Mas em inovação nos negócios, o país sempre careceu de visão, conhecimento e iniciativa de suas lideranças no âmbito das empresas e, das instituições, de uma ação articulada entre empresas, centros de pesquisa e governo (na chamada “tripla hélice”), salvo algumas “ilhas de inovação”, exceções à regra que não podemos deixar de relevar:
– setores como o agronegócio, em que desde os anos 70 a Embrapa impulsiona uma pesquisa de ponta pró-inovação;
– Petrobras, com um invejável centro de pesquisa, o Cenpes;
– Embraer, apoiada pelo Centro de Tecnologia Aeronáutica e ITA;
– Outros setores impulsionados pela atitude empreendedora e persistência individual de seus fundadores: cosméticos (Natura, O Boticario), metal-mecânico (Randon, Marcopolo) ou financeiro (Itaú, Bradesco).
O caminho é longo, mas estamos mais consicentes de que o modo de pensar, os métodos e a atitude pró-inovação não são algo natural em nossas lideranças e que precisam ser desenvolvidos. Talvez esta seja a razão pelas quais muitas das agendas estratégicas de inovação não saiam do discurso. E por que somos assim?
– do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico, sempre prevaleceu o paradigma de que toda a pesquisa e desenvolvimento (P&D) original de produtos acontecia fora do Brasil (sobretudo na Europa e Estados Unidos). Ou melhor, do P&D, (quase) nenhum P e pouco D era realizado no Brasil. As multinacionais atuando aqui só reforçaram este paradigma. Recentemente alguma atividade de P&D passou a ser “transferida” para o país (Fiat, Ibm, Johnson & Johnson e Syngenta são exemplos neste sentido), em uma “inovação reversa” das filiais para as matrizes destas empresas;
– pensar a longo prazo sempre foi um desafio. Boa parte das lideranças que ainda comandam as empresas brasileiras viveram os anos de hiperinflação e instabilidade econômica da década perdida (anos 80) em que longo prazo era planejar o próximo ano fiscal. Desta forma foi só a partir de 1995 (após o sucesso do Plano Real) que estas empresas começaram a formular planejamentos estratégicos para um horizonte de 3 a 5 anos;
– o tamanho do mercado doméstico foi e continua sendo um fenômeno sedutor e até uma boa desculpa para as empresas brasileiras permanecerem no país, adiarem ou até reduzirem sua exposição internacional, tanto de lá para cá (trazendo novas tendências, ideias de produtos, serviços e tecnologias) como daqui para lá (internacionalizando nossas empresas). A menor exposição do país ao mercado internacional faz com que nos contentemos com o que produzimos e entregamos nos padrões daqui;
– o traço cultural do brasileiro de que tecnologias ou produtos mais sofisticados importados são melhores do que os nacionais pode e deve ter inibido o desenvolvimento amplo dos setores de alta tecnologia que agregam mais valor à economia do país como eletroeletrônico, software e bens de capital;
– o paradigma de que pesquisa pura (teórica) se faz na universidade e aplicada (prática) se faz nas empresas, ou seja, o pouco diálogo entre universidades e empresas, sem contar com o fato de que os melhores centros de pesquisa no país estão em universidades públicas, cujo viés de pesquisa é voltado para o bem público e não privado, afasta projetos da iniciativa privada;
– há de se reconhecer que empreender e investir em inovação com risco em um país cujas condições básicas e o ambiente de negócios está longe de ser favorável não é algo simples, haja vista nossa infra-estrutura precária e carga tributária incompatível com nossos negócios.
Curiosamente há 30 anos o Japão, há 20 a Coréia do Sul e há 10 a China conseguiam romper com um quadro similar a este. Empresas coreanos estão hoje entre os maiores e melhores players internacionais no setor de eletroeletrônicos (Samsung, LG) ou automotivo (Hyundai, Kia). Não precisamos ir longe, pois o Chile decidiu impulsionar a economia criativa: a Startup Chile já é o mais importante programa de estímulo a novos negócios tipo startups da América Latina e 2013 é o ano da inovação promovido pelo governo chileno em parceria com empresários do país.
Algum esforço tem sido realizado no Brasil a exemplo da MEI-Mobilização Empresarial pela Inovação da CNI-Confederação Nacional da Indústria que já teve alguns desdobramentos, entre eles o anúncio de mais de 20 Institutos Senai de Inovação, e de algumas leis como a lei do Bem de incentivo à inovação. Alguns empresários e executivos brasileiros têm se empenhado em capacitor seus profissionais, é o que mostra uma pesquisa da Symnetics de 2012 – educar profissionais é o investimento número 1 quando se fala em inovação, e também investir em projetos piloto experimentais de inovação e novos negócios (em 2o lugar na pesquisa).
O frame (moldura) sobre o qual vamos nos debruçar nas próximas páginas tem como objetivo possibilitar uma autoreflexão sobre a o modo de pensar, os métodos e a atitude das lideranças sobre a inovação nos negócios. Este frame não se trata de um modelo, mas de uma lente ou organizador de ideias sobre o significado e o impacto da inovação que se pretender buscar. Este frame melhor seria denominado um metaframe, já que é uma maneira de refletir sobre o que se está pensando e fazendo e pode orientar estratégias, planos, ações ou minimamente despertar consciência nesta direção. Este frame procura ir além dos “modelos” da gestão convencionais (como sistemas, processos, indicadores). Tais “modelos” são importantes para sistematizar e perpetuar a inovação nas empresas, mas sem que os elementos do frame aqui apresentados sejam trabalhados, acreditamos que tais “modelos” carecem de conteúdo e se transformam numa mera gestão da inovação vazia, “do processo pelo processo”. Ilustraremos com exemplos (práticas) em 2 dimensões, uma das empresas e outra de instituições de apoio (universidades, institutos, governos, entre outras).
Figura 1: Frame (ou metaframe) para pensar a inovação[1]
O Aprender
Os processos de inovação são únicos e refletem a cultura, o “DNA” das organizações. Não existe uma fórmula, prescrição ou melhor prática de inovação. Cada empresa construiu seu próprio modo de pensar e fazer as coisas e aprendeu de forma consciente ou não por 3 trilhas:
– a trilha do “aprender para a prática”: formar, educar lideranças, gestores e outros profissionais em modos de pensar, conceitos, métodos e ferramentas próprios da inovação (a exemplo do design, cocriação, futurismo estratégico, inteligência tecnológica, entre outros). Na figura 2 apresentamos grande parte deste conhecimento disponível, organizado em diferentes “linhas”;
Figura 2: Uma tentativa de explicitar o “Safári” da inovação. A coluna esquerda representa as diferentes “linhas” e a coluna direita os conceitos e métodos disponíveis em cada linha.
– a trilha do “aprender na prática”: o conhecimento para a prática pode dar o estímulo, o impulso inicial para as iniciativas de inovação, no entanto a cultura só será enriquecida depois da experimentação (aprender fazendo via projetos piloto) em que de fato a aplicação dos conceitos e métodos são efetivamente testados e ajustados ao contexto de cada empresa;
– a trilha do “aprender sobre a prática”: trocar conhecimentos e experiências sobre os projetos e processos vividos, refletir sobre o aprendizado gerado pela ação prática; Instituir fóruns, ambientes e plataformas físicas ou virtuais para que isto aconteça.
O Protagonizar
A instância do protagonismo acontece não só na visão mas na atitude das lideranças de fazer as coisas acontecerem dentro e fora das empresas. Internamente ou externamente, ela ocorre:
– pela articulação com stakeholders, públicos de interesse como governos, centros de pesquisa, fornecedores, parceiros de negócio e sociedade;
– ações de influência, persuasão e mobilização (dentro e fora das empresas);
– projeção das empresas para além do convencional no ambiente em que elas estão inseridas;
– incentivo e reconhecimento.
Um das tendências mais estudadas na atualidade têm sido o da busca de “valor social compartilhado” (shared value), em que as empresas têm procurado liderar movimentos de engajamento dos stakeholders (por exemplo fornecedores parceiros, a comunidade ou prefeituras) no intuito de criar valor social (para além do valor gerado ao acionista), prometendo um jogo “ganha-ganha” para todas as partes envolvidas.
Protagonizar é muitas vezes a tarefa de uma única pessoa dentro na empresa, que desperta para um propósito e impulso além dos limites pré-estabelecidos e decide se empenhar em uma “jornada” cujo fim ela desconhece. Para citar alguns nomes brasileiros, no setor privado temos Romeo Busarello (Tecnisa), João Ciaco (Fiat), Paulo Amorim (Dell), Ronald Dauscha (Siemens), Fábio Barbosa (Real e Santander), Harry Grandberg (Villares Metals) e Paulo Rossi (Mapfre Seguros). E no setor público e social, Jorge Gerdau (Gerdau, Câmara de Gestão e Competitividade do Governo Federal), Jorge Lehman (Imbev, Endeavour), Pedro Passos (Natura, Fundação Nacional da Qualidade) e Rodrigo Loures (Nutrimental, CNI).
O Construir
Construção nos remete à ação, ao homo faber, mas também a concepção, a criação e a intervenção no meio em que vivemos. Toda a atividade de inovação não faria sentido se não houvessem projetos que modificam o status quo. O design (cuja melhor tradução em português é “projetar”), trata justamente de um movimento contínuo de busca de soluções para desafios estratégicos (mais abstratos, semi ou não estruturados) ou problemas empresariais (mais concretos, semi ou bem estruturados): para tanto, trilha-se um caminho de exploração (de novos espaços, novas possibilidades) e observação (tendências, pessoas e contextos sócio-culturais) com concepção, prototipagem, adequação (às restrições do negócio) e experimentação para se chegar a alguma solução nova e de impacto na sociedade.
O Construir trata também da pesquisa, prospecção e desenvolvimento tecnológico e científico aplicado a produtos e serviços através de uma “inteligência tecnológica” pró-ativa. É aí entra o papel dos centros de pesquisa (das universidades, por exemplo).
Outro componente do Construir são os novos negócios (hoje popularizados como startups), que vêm cada vez mais sendo estimuladas dentro dos próprios negócios através de incubadoras e aceleradoras visando diversificar a atuação das empresas em negócios promissores de futuro e estimular o intraempreendedorismo.
O Construir pode ocorrer de forma orgânica, com capacidades/ recursos próprios, por extensão daquilo que se conhece ou busca daquilo que não se conhece, mas que irá em algum momento se acopla ao negócio principal; Mas também pode acontecer com capacidades/recursos de terceiros, ou seja, potencializada através da rede de parceiros (cocriação, coinovação ou inovação aberta com clientes e outros stakeholders) em que o conhecimento é desenvolvido e compartilhado através de parcerias técnicas e comerciais; Ou ainda se juntando (ou adquirindo) empresas que já detêm o conhecimento daquilo que se pretende construir: este talvez seja o caminho mais rápido, porém não o mais garantido.
O Construir essencialmente trabalha em projetos de um futuro que se aproxima, cujas tendências já estão presentes ou emergindo hoje na sociedade e cujas necessidades (dos stakeholders) são possíveis de se observar, analisar e experienciar. São os projetos do tipo Next, que vão moldar os produtos, serviços, negócios e marcas no mundo nos próximos 3 a 8 anos. Em economias maduras, estes projetos de Next já estão definidos, o que não acontece com as economias emergentes, cujas empresas em geral ainda estão por constituir seus projetos nesta direção.
Outra abordagem do Construir não menos importante são todas as ações orientadas para viabilização dos projetos pela busca de fontes de financiamento e incentivos fiscais e regulamentação de marcas e patentes.
O Extrapolar
Há 60 anos Schumpeter defendia a destruição criadora como mola propulsora do capitalismo. Há 30 anos Peter Drucker dizia algo parecido, que inovar é um exercício de criar o futuro. Escritores como Asimov, Orwell, Huxley, Wells e diretores de cinema como Kubrick, Lucas, Spielberg, Scott projetarem em suas artes futuros possíveis (ou prováveis). A projeção de cenários futuros permite às empresas hoje criarem conceitos ou linhas de atuação sobre os quais vão investir pesquisa e desenvolvimento ou incubar projetos alternativos, inusitados ou improváveis se fossem implementados dentro do espírito do tempo (zeitgeist) do hoje. Projetos estes, se bem empreendidos, costumam ser de alto impacto e moldam os produtos, serviços, negócios e marcas com potencial disruptivo de transformar a realidade e vida das pessoas. Muitos dos desafios com alto grau de complexidade (muitos deles sem solução) tais como o trânsito nas cidades ou a busca por fontes renováveis de energia a custo competitivo são alvo dos projetos de futuro.
O mesmo acontece quando mapeamos tendências, sobretudo os sinais fracos, utilizando uma “visão lateral” que enxerga fatos, eventos, movimentos ou apenas indícios e manifestações sem importância alguma. Pouca gente está percebendo os sinais fracos e decidem “se antecipar”, extrapolam estes sinais no futuro e projetam algo dentro dele. Foi o que aconteceu com a tecnologia digital há 20 anos, um sinal fraco que se transformou em linhas de atuação/negócio de algumas empresas (como Apple e Samsung) e ao mesmo tempo foi negligenciado por outras (como Kodak e Xerox).
Os projetos ou processos de futurismo estratégico, também conhecido como foresight (antevisão) ou ainda After Next trabalham trabalha essencialmente o sonho das organizações e moldar do futuro (entre 10 e 30 anos). Ao contrário do que acontece nas iniciativas do Nex”, que irão melhorar aquilo que já se conhece e domina ou se adaptar às tendências atuais e emergentes, os projetos de After Nex” criam futuros possíveis (ou prováveis), moldando o que está por vir.
O frame e as empresas
Extrapolar – A Siemens e o Pictures of the Future
A Siemens institucionalizou o Pictures of the Future (POF). Através de análises de tendências e imaginação de futuros, eles criam “Imagens do futuro”. Trabalhando com experts e formadores de opinião do mundo inteiro, a empresa consegue identificar oportunidades e transformá-las em linhas de atuação/negócio de longo prazo. O trabalho é composto pela elaboração de cenários, características e premissas de futuro, que se traduz numa visão sofisticada e abrangente. A Siemens constantemente se pergunta: quais são as tecnologias que vão transformar o mundo nos próximos 20-30 anos? Um dos focos do POF em 2013 são as cidades do futuro (2040) e suas implicações nos negócios de energia e transportes.
Aprender + Construir – A P&G, uma pioneira no design como competência essencial
A.G. Lafley, ex-presidente da Procter & Gamble, chamou atenção no mundo dos negócios quando colocou o Design no centro da estratégia corporativa a ponto de instituir há 10 anos uma Vice-Presidência de Design, Estratégia e Inovação. Desde então, a empresa trabalha fortemente o design como competência essencial e para tanto mobiliza dezenas de times multidisciplinares (com engenheiros, designers, antropólogos, artistas, entre outras competências) e utilizando métodos como o business design (design thinking aplicado aos negócios) e a cocriação com stakeholders, impulsiona novos produtos, negócios e marcas globais em diversas categorias tais como cuidado pessoal e limpeza.
Protagonizar + Construir – A IBM e as cidades inteligentes
A IBM iniciou uma mobilização da sociedade para ajudar a resolver um problema latente na sociedade: tornar as cidades mais inteligentes. Isso só será possível caso tenhamos dados suficientes (o chamado Big Data) para tomar decisões mais rápidas e inteligentes. Buscando intensificar a captura de dados, por exemplo através sensores espalhados pelas ruas, avenidas e calçadas, a IBM se posiciona em ajudar a capturar, estruturar e analisar essa enorme quantidade de informações. A IBM faz uma intensa mobilização de atores como governos (ex: prefeituras), empresas, universidades, mídia e a própria sociedade, chamando a atenção de como é possível melhorar as cidades com mais informação e conhecimento.
Aprender + Construir – A startup dentro das empresas
Há uma revolução silenciosa acontecendo. Empresas estão incubando e acelerando suas próprias startups, algo que antes era privilégio de jovens empreendedores do Vale do Silício (como do Google ou Facebook), que atraem continuamente startups/empreendedores. No Brasil, a Vivo criou em 2011 a Academia Wayra para incubar novas ideias financiando e apoiando startups. Há mais de 10 anos o Grupo Votorantim criava a Votorantim Novos Negócios que já fez o spin off de diversos negócios promissores na área de tecnologia de informação (ex: Tivit) e biotecnologia (ex: Alelyx).
Extrapolar + Construir – A vanguarda da Natura
A Natura experimenta deste 2006 novos processos para capturar ideias e insights da sociedade e de vários stakeholders para inovações de produto, canais e serviços, conectados com o conceito de uma empresa sustentável que trabalha pelo “bem estar bem” das pessoas. Aproximadamente 6500 pessoas interagem com a Natura todo mês via “Natura Campus”, uma plataforma de Inovação Aberta. A linha Ekos é toda desenvolvida de forma cocriada com centenas famílias no Norte e Centro-Oeste aprendem na prática um processo sustentável de extração da matéria-prima e recebem um percentual dos ganhos da empresa com a venda de produtos. À procura de novos insights, a Natura também se preocupa com tendências e cenários futuros, tanto que em 2011 estruturou uma área de Foresight com a finalidade de capturar tendências emergentes na sociedade e no mundo do consumidor. Uma das perguntas que vem intrigando a Natura é se e como irá mudar o papel e significado dos perfumes com a mudança das relações e redes sociais.
Construir – A Philips e o design colaborativo entre indústrias
A Philips vem nos últimos 10 anos desenvolvendo projetos de design convidando empresas de outros segmentos para co-projetar novos produtos. Em 2002 se juntou à Nike para estimular e melhorar a experiência do atleta; em 2003 faz uma joint venture com a fabricante de móveis do designer italiano Giulio Cappellini. A Philips aplica esta capacidade de inovação para a criação de mercados inteiramente novos, juntando indústrias que até então operavam separadamente.
O frame e as instituições
Extrapolar + Protagonizar – Integrando tecnologias na Singularity University
A Singularity é uma universidade criada pela NASA e pelos fundadores do Google com a missão de antecipar novas tecnologias que podem dramaticamente impactar a sociedade no futuro. Eles oferecem um programa de graduação, cursos executivos, Summits e pesquisas sobre assuntos temáticos. A escola permite aos participantes compreender os desafios e oportunidades das grandes inovações tecnológicas que estão por vir. Singularidade é sinônimo de amadurecimento de uma ou mais tecnologias, criando uma nova realidade na sociedade. As principais áreas de pesquisa são ontogenética, robótica, inteligência artificial, serviços automatizados, biologia sintética, medicina regenerativa, interfaces celebrais e nanotecnologia molecular.
Extrapolar + Construir – A liberdade de criação no MIT Media Lab
Criado em 1985, o MIT Media Lab aplica uma abordagem não ortodoxa de pesquisa para trabalhar na visão do impacto de tecnologias emergentes na vida das pessoas – tecnologias que prometem transformam as nossas vidas. Sem restrições das disciplinas tradicionais, lab designers, engenheiros, artistas e cientistas trabalham num estilo “ateliê”, conduzindo mais de 350 projetos desde neuroengenharia, passando por educação infantil e carro do futuro. Através de uma cultura tipo “aprender fazendo”, o MIT Media lab estimula a invenção de novas possibilidades para a sociedade.
Construir + Protagonizar + Aprender – A tecnologia aplicada do Fraunhofer Institute
A Fraunhofer é maior organização de pesquisa aplicada na Europa. Trabalha através de institutos independentes em diversas áreas – saúde, segurança, comunicação, energia e meio ambiente – com projetos de impacto junto às indústrias voltado para a melhoria da vida das pessoas. Também atuam no aperefeiçoamento de métodos e técnicas de inovação e desenvolvimento tecnológico. Tem parceria com governos de diversos países, associações de indústria e outras organizações para a transferência de tecnologia (através de acordos bi-laterais ou tri-laterais) e “exportação” do seu próprio modelo de negócio.
Construir + Aprender – Corfo e o empreendorismo e inovação “hecho en Latino America”
A Corfo (Corporación de Fomento del Producción) é um programa do governo chileno que implementa políticas públicas para o desenvolvimento econômico. A Startup Chile, uma de suas iniciativas de maior impacto, pretende incubar e acelerar empreendimentos startups, atraindo empreendedores de todo o mundo. Além disso, promove concursos de futuro, projetos associativos e linhas de financiamento (seed money e capital de risco).
Construir + Aprender – Os espaços Makers
Bem retratado no livro “Makers” (2012) do Chris Anderson, makers são ambientes independentes ou vinculados a alguma instituição para prototipagem de artefatos/produtos. Possibilitam que empresas já constituídas ou novos empreendedores transformem suas ideias em protótipos que possam ser experimentados, testados ou comercializadas na indústria ou em um pequeno negócio. Estes espaços dispõem de impressora 3D e outros equipamentos para modelagem de produtos. Além do espaço maker voltado para artefatos/produtos, já existem também espaços gen voltados para pesquisas científicas experimentais e independentes, sobretudo em biotecnologia.
Protagonizar + Extrapolar – Cingapura e o Ministério do Futuro
Em 2006 foi criada uma unidade de Foresight no governo do Cingapura. O objetivo é não só procurar tendências e analisar as suas implicações econômicas, como também mobilizar os stakeholders para imaginarem a economia de Cingapura do futuro junto com a análise de indicadores socioeconômicos, tecnológicos, demográficos, ambientais e geopolíticos.
Protagonizar + Construir – A prefeitura de Seul convida seus 10 milhões de habitantes para cocriar uma cidade melhor
Oasis é o nome de uma plataforma social digital (rede social) Plataforma social digital instalada em 2006 pelo prefeito de Seul Oh Se-Hoon. O objetivo é cocriar com a população ideias para melhor a qualidade de vida da cidade. Mais de 40% da população de Seul (em torno de 4,2 milhões de pessoas) interagiram na plataforma e mais de 80 já projetos foram implementados desde então.
Conclusão
Encontrar um nível ótimo entre aprender, protagonizar, construir e extrapolar a inovação adaptado ao contexto de cada empresa com olhos no passado, presente e futuro é o desafio das lideranças. E reconhecer que modos de pensar, métodos e atitudes que produziram resultados no passado pela excelência em gestão, qualidade e eficiência já não são suficientes para quem está abraçando o movimento da inovação. Para tanto é necessário “operar” com um modo de pensar diferente e complexo; E assumir que embarcar nesta “jornada” irá demandar:
– uma postura multi/transdisciplinar na concepção daquilo que se pretende: a integração ou harmonização de diversos campos do conhecimento como engenharia, arte, tecnologia, sociologia, filosofia, antropologia e administração;
– a busca de algo que não se conhece nem se define de antemão (a exploração ou a antevisão);
– a capacidade de experimentação, adaptação e adequação às condições (regulatórias, financeiras, tecnológicas, humanas ou sociais/culturais) impostas pela própria realidade, algo que só acontece na prática e não numa idealização contínua daquilo que se pretende, desconectado da prática;
– um aprendizado contínuo com erros, acertos e mudanças às vezes significativas de rumo ao longo do trajeto originalmente planejado.
Do ponto de vista institucional, cabe ao governo, centros de pesquisa e outras organizações de apoio que:
– trabalhem de forma articulada com os diversos stakeholders, protagonizando iniciativas e plataformas que preencham espaços na economia criativa;
– acelerem o ímpeto empreendedor e incubação de ideias (do Next ao After Next);
– trabalhem de forma antecipada e visionária em prol da solução dos problemas crônicos ou complexos da sociedade de hoje e do amanhã;
– criem um ambiente favorável de negócios com marco regulatório, fontes de financiamento e infra-estrutura adequada.
[1] Gostaria de agradecer a colaboração nas reflexões sobre este frame e empenho nas jornadas de inovação em nosso país dos meus colegas Anderson Penha, Daniel Egger, Max Yogoro, José Barata e Teresinha Cesena.